fósforos
  «A vida são fósforos, acendendo-se uns em outros que se apagam.»
in Couto, Mia, O outro pé da sereia,
Ed. Caminho, SA, Lisboa, 2006, pág. 230

Palitos de pinho impregnados de enxofre eram usados como fósforos desde o século VI na China, mas apenas se incendiavam com uma brasa, sendo de difícil utilização.
Só no início do século XIX apareceu o fósforo produtor de chama através de uma única acção, seja por reacção química ou por fricção.
A caixa de fósforos com lixa nasceu nesta época em 1830.

O fósforo iniciado por reacção química era caro e perigoso e não teve sucesso. A mistura inflamável continha clorato de potássio, enxofre, açúcar e borracha e produzia chama ao ser mergulhada num pequeno frasco de amianto contendo ácido sulfúrico.

O primeiro fósforo de fricção foi inventado pelo químico inglês John Walker em 1827 (não confundir com o escocês, o do whisky, ligeiramente mais novo 1805-1857).
Walker comercializou os fósforos em vida mas não registou patente nem revelou a composição. Sabe-se no entanto que a mistura continha sulfureto de antimónio, clorato de potássio, goma e amido.
Os primeiros fósforos com registo, foram-no sob o nome de “lucifers”. Apresentavam defeitos, como seja a instabilidade da chama e uma reacção demasiado violenta, para além do cheiro desagradável. Apesar das dificuldades de uso poderão ter contribuído para o aumento do número de fumadores.
Em 1831 o francês Charles Sauria juntou à composição fósforo branco afim de atenuar o cheiro, mas tinham de ser conservados numa caixa hermética.

No entanto, primeiro na Alemanha em 1840 e depois uma Convenção internacional, assinada em Berna a 26 de Setembro de 1906, a utilização de fósforo branco foi interditada porque o fabrico destes fósforos expunha os operários a doenças e à morte.

Hans Christian Andersen escreveu um conto intitulado “A rapariga dos fósforos”, o pintor Otto Dix pintou um vendedor de fósforos (1920), Jean Renoir filmou “A pequena vendedora de fósforos” (1928) e em “O fósforo sueco” (1884), romance de Anton Tchekhov, o fósforo é a pista que conduz à solução do mistério.
Foi precisamente dez anos antes do romance de Tchekov que o sueco Gustav Pash inventou o fósforo seguro, comercializado a partir de 1850.
Foi posteriormente melhorado mas mesmo assim já nessa altura era muito parecido aos que hoje se usam.

Se o fósforo é tema na literatura, pintura e na sétima arte, também o filuminista, colecionador de caixas de fósforos, foi evocado por Anatole France no seu primeiro romance: “O crime de Sylvester Bonnard” (1880). A conversa de Madame Trépof com Bonnard é ilucidativa: 

«Dimitri experimentou todas as colecções, mas a única que lhe interessa é a das caixas de fósforos. Ele já tem cinco mil duzentas e quatorze tipos diferentes. Houve uma que foi simplesmente terrível de encontrar. Sabíamos que tinham sido feitas em Nápoles caixas com os retratos de Manzini e de Garibaldi, e que a polícia tinha confiscado as pranchas dos retratos e aprisionado o fabricante. À força de procurar e perguntar, encontrámos uma destas caixas por cem francos, em vez de cinco cêntimos. Não era demasiado cara, mas denunciaram-nos. Fomos presos como conspiradores. …Até aí achava estúpido colecionar caixas de fósforos; mas quando vi que nelas havia liberdade e vida, talvez, tomei-lhe o gosto. Agora sou fanática por caixas de fósforos. Iremos no próximo verão à Suécia, para completar a nossa série. Não é, Dimitri?».

Para um contacto mais directo com o o filuminismo:
museu dos fósforos

Fontes:
https://fr.wikipedia.org/wiki/Allumette
https://origemdascoisas.com/a-origem-dos-fosforos/
https://gallica.bnf.fr/